domingo, 21 de setembro de 2008

Caçadas nos Açores : O Coelho Bravo


O Coelho Bravo, trazido há 500 anos pelos primeiros povoadores destas ilhas atlânticas, depressa se adaptou ao clima e paisagem das mesmas, proliferando com relativa abundância por todas elas. Amado por uns, odiado por outros, o Coelho Bravo tem conseguido graças á sua força e grande instinto de sobrevivência, manter a sua presença, apesar de ser fortemente atacado pela Virose Hemorrágica, com especial incidência naIlha de São Miguel. No entanto, suspeita-se que morrem muitos coelhos por“intoxicação” alimentar, proveniente de elevadas concentrações de Adubos e Salitres nas pastagens onde se alimentam.

Sendo a peça “basilar” da caça nos Açores, os seus reduzidos números, trazem restrições á sua caça, e aumento de pressão cinegética sobre as restantes (Codornizes,Galinholas, Narcejas e Pombas da Rocha). A sua época de caça, varia entre cada ilha, conforme a sua abundância. Assim, na Ilha de São Miguel, os Caçadores de Coelhos (Monteiros de caça menor), caçam desde o primeiro domingo de Outubro até ao último domingo de Dezembro, com um limite máximo diário de abate dc 2 peças por caçador e de 10 peças por grupo.

Caçando de batida, com recurso a uma matilha de Podengos (açorianos ?), no máximo de 12 cães, furando silvados, percorrendo matos rasteiros, ribeiras e grotas, os nossos heróis (os coelhos) são capazes de nos proporcionar excelentes dias de caça, repletos de emoção, adrenalina e paixão. Os cães, incentivados pelo matilheiro, que lhes grita frases típicas destas caçadas: pega “Farol”.... tira fora “Boneca”.... busca “Galiza”....procura “Benfica” ficou “Paquete” ajuda “Varina”..., fura “Espanhol”....pega “Dourado” .... olha ó coelho .... dão grande ânimo á matilha e aos caçadores, que colocados em zonas estratégicas, aguardam com atenção a saída dos coelhos. Saindo em grande velocidade, em zig zags desnorteantes, perseguidos pelos cães e súbitamente PUM PUM. E cobrado o primeiro coelho da época, que é recolhido pelo nosso cão de“trazer” o “Dourado”, de dente mole e mau feitio, traz-nos com muita perícia todo e qualquer coelho morto a tiro ou pegado pelos cães.

Pelo feitiço e mito que envolve a caça do coelho, são muitas as ocasiões que nosproporcionam histórias incríveis, como as que aqui passo a descrever:
- Certa vez caçava connosco, um amigo do continente, que ao ver a qualidade do nosso cão de trazer, logo ofereceu bom dinheiro pelo mesmo, ao que o meu pai, seu proprietário lhe respondeu: O amigo desculpe lá, mas mande lá o seu dinheiro buscar aquele coelho a ver se o traz. Se assim for temos negócio ! O coelho ainda lá está ...

- Um primo meu, vindo das Ilhas Bermudas, que estava em São Miguel a passar férias, foi connosco á caça. Após algumas horas de perseguição, um belo coelho, que tinha escapado aos tiros por várias vezes, tinha-se metido na toca. O meu pai tirou o furão (que agora está proibido) e meteu-o dentro da toca, em perseguição do coelho, e mandou o meu primo Andrew , de espingarda na mão, ficar perto da outra saída. Passados escassos minutos sentimos o coelho guinchar dentro da toca, deixando toda a gente alerta, e de repente ouvem-se dois tiros e alguém grita eufórico: Hei primo, o “rabitte da bell” (coelho da campaínha) já tá morto, consegui matá-lo. Mas o outro conseguiu fugir ! O meu pai sentou-se e chorou!

- Uma outra vez, caçava aos coelhos na Grota do Inferno, na Vila da Lagoa em São Miguel, quando vejo os cães a perseguirem um grande coelho, mas correndo no sentido contrário ao que eu estava. Então gritei bem alto “heiiiii “ a minha voz ecoou no outro lado dos montes assustando o coelho que de repente virou para traz, correndo na minha direcção, deixei-o aproximar-se dando-lhe um tiro certeiro entre as orelhas.

O almoço, é outro ponto alto de um dia de caça. Entre queijos típicos das ilhas,morcelas fritas com ananás, queijos frescos feitos com leite de cabra, e uma boa pinga de Vinho de Cheiro, contam-se as peripécias decorridas durante aquela manha de caça. Acertam-se negócios, vendem-se cães. Prometem-se cachorros, depositam-se esperanças.

A caça, faz parte da cultura de um povo, seja ele “Açoriano”, Português ou Espanhol, e deve ser preservada, acarinha e mantida, pelos orgãos do Governo. Aos Caçadores, apenas se pede que sejam agentes cumpridores das Leis da Caça e que ajudem a fomentá-la e preservá-la. Aos Governantes, apenas se pede que procedam á sua Fiscalização e Fomento, com rigor e isenção. A Santo Huberto, apenas se pede, que olhe por todos nós e que nos ilumine!

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Contribuidores

Lista das Espécies Cinegéticas dos Açores

  • A Codorniz
  • A Galinhola
  • A Narceja
  • A Perdiz Vermelha
  • O Coelho Bravo
  • O Pombo da Rocha
  • Os Patos

Podengo Português

Podengo Português
Homenagem ao melhor caçador de coelhos de sempre.